Os fungos ectomicorrízicos são os melhores amigos das plantas?
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Um estudo de alcance internacional lança luz sobre o papel fundamental dos fungos micorrízicos nas florestas e como suas interações com as árvores podem impactar a biodiversidade em diferentes regiões do planeta. A pesquisa, que analisou 4.090 florestas distribuídas por 50 países em cinco continentes, oferece uma nova perspectiva sobre a forma como essas associações biológicas subterrâneas influenciam a diversidade das plantas que compõem os ecossistemas florestais.
As florestas abrigam a maior biomassa entre os ecossistemas terrestres e são essenciais tanto para mitigar os efeitos das mudanças climáticas quanto para preservar a biodiversidade. No entanto, pressões humanas severas têm levado à degradação acelerada desses ambientes, aumentando o risco de extinção de espécies arbóreas e a perda irreversível de florestas em escala global.
Embora fatores como temperatura, precipitação, fertilidade do solo e mecanismos de autorregulação populacional já sejam reconhecidos como influências importantes na diversidade de espécies, pouco se sabia até então sobre o papel das interações mutualistas como as que ocorrem entre árvores e fungos nesse processo.
Os fungos ectomicorrízicos, por exemplo, formam simbioses com as raízes das árvores, fornecendo nutrientes e proteção contra patógenos em troca de carbono. Essas relações são comuns e essenciais em muitos ecossistemas terrestres. Entretanto, havia um impasse científico: enquanto alguns estudiosos sugeriam que esses fungos poderiam reduzir a diversidade ao favorecer certas espécies dominantes hipótese conhecida como "dominância ectomicorrízica", outros defendiam que a presença de diferentes tipos de fungos poderia, ao contrário, promover maior diversidade, o que levou à formulação da chamada "hipótese da mistura micorrízica".
A resposta encontrada pelos pesquisadores, no entanto, é mais complexa: depende das condições ecológicas. O estudo mostrou que, em florestas de baixa latitude com clima úmido, a dominância de fungos ectomicorrízicos está associada à redução da diversidade arbórea. Em contrapartida, em regiões áridas de baixa latitude, a presença de uma maior variedade de fungos favorece a diversidade. Já em florestas localizadas em faixas intermediárias de latitude e umidade, uma nova teoria ganha força: a “hipótese integrada”, que considera uma combinação dos dois modelos anteriores.
De acordo com os autores, esses achados ampliam a compreensão sobre como os fungos subterrâneos moldam as comunidades vegetais e contribuem para a manutenção da biodiversidade. Ao revelar a complexidade dessas relações mutualistas, o estudo também destaca a importância de considerar fatores regionais em estratégias de conservação e restauração florestal.
A pesquisa, que une dados ecológicos em escala global, reforça a ideia de que soluções universais para a proteção das florestas devem levar em conta as sutilezas locais inclusive as que ocorrem abaixo do solo.
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