Tragédia de Mariana: Monitoramento revela impactos persistentes no ecossistema aquático de Linhares e São Mateus
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Quase três anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), as marcas da maior tragédia ambiental da história do Brasil continuam visíveis nas águas e na vida de comunidades litorâneas do Espírito Santo. Um estudo recente trouxe à tona dados preocupantes sobre a qualidade da água no Rio Ipiranga e na Praia de Urussuquara, em Linhares, locais atingidos pela lama de rejeitos que percorreu cerca de 800 quilômetros pela bacia do Rio Doce.
O desastre, ocorrido em 5 de novembro de 2015, despejou o equivalente a aproximadamente 16 mil piscinas olímpicas de rejeitos de mineração no distrito de Bento Rodrigues, em um intervalo de apenas 11 minutos. O avanço da lama não apenas devastou comunidades e ecossistemas de Minas Gerais, mas alcançou o litoral capixaba, afetando áreas de alta relevância ecológica e econômica. A restinga de Urussuquara, onde o Rio Ipiranga encontra o mar, é um importante berçário natural para espécies marinhas e estuarinas e sustenta atividades de pesca artesanal e ecoturismo.
Entre setembro de 2017 e maio de 2018, pesquisadores monitoraram as águas do Rio Ipiranga e do litoral de Urussuquara ao longo de todas as estações do ano, analisando parâmetros físico-químicos como oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, pH, transparência, temperatura, profundidade e sólidos totais dissolvidos. Os resultados foram comparados com os padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, que define critérios para a qualidade de águas doces, salobras e salinas no Brasil.
Os dados revelaram níveis alarmantes de degradação, com alterações significativas nas condições ambientais e prejuízos diretos para a biodiversidade local. Espécies de peixes de importância ecológica e econômica, base da subsistência de pescadores artesanais, sofreram redução populacional e perda de habitat. A diminuição da qualidade da água também ameaça a cadeia alimentar marinha e pode comprometer atividades turísticas dependentes da integridade ambiental da região.
Para especialistas, os resultados reforçam que os efeitos de desastres ambientais de grande porte não se restringem ao momento do impacto, mas podem se prolongar por anos, exigindo monitoramento contínuo, recuperação de ecossistemas e políticas públicas efetivas para garantir a sobrevivência das comunidades e da biodiversidade afetadas.
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