Volume de competição entre espécies de Dysdercus(Percevejo manchador de algodão)por recursos alimentares
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Estudo revela competição intensa entre espécies de percevejos manchadores de algodão no Brasil
Uma pesquisa publicada pela revista Neotropical Entomology trouxe novos esclarecimentos sobre a dinâmica ecológica de diferentes espécies de percevejos manchadores de algodão (Dysdercus spp.), insetos conhecidos por atacar sementes e flores de plantas malváceas, incluindo o próprio algodão. O estudo investigou como esses insetos compartilham recursos alimentares e até que ponto conseguem coexistir no mesmo ambiente sem que uma espécie elimine a outra.
A análise foi conduzida a partir do conceito de nicho ecológico, entendido como um espaço multidimensional em que cada espécie encontra suas condições de sobrevivência. Nesse contexto, os cientistas aplicaram modelos matemáticos de competição para medir a sobreposição de nichos entre oito espécies de Dysdercus. O objetivo foi compreender a intensidade da disputa por alimento e os limites que permitem a coexistência entre espécies semelhantes.
Os dados foram obtidos por meio de amostragem aleatória em uma área de 1.200 metros quadrados, na qual foram previamente marcadas as plantas hospedeiras. A cada mês, registrou-se o tempo de exploração alimentar de cada espécie de percevejo em relação às plantas de interesse, especialmente malváceas, como o algodoeiro. Esse método permitiu calcular o chamado “coeficiente alfa (α)”, que expressa o grau de competição entre espécies.
Os resultados mostraram uma ampla variação nos valores de competição, que oscilaram de zero até 0,932. Entre as espécies analisadas, destacaram-se Dysdercus ruficollis, D. fulvoniger e D. mendesi, que apresentaram os índices mais elevados de sobreposição de nicho, variando entre 0,517 e 0,932. Esses números indicam que tais espécies exploram recursos muito semelhantes, o que aumenta a competição direta entre elas.
Além disso, a análise estatística revelou padrões distintos de distribuição: os valores de competição de D. fulvoniger apresentaram distribuição mesocúrtica, enquanto D. honestus e D. marginatus exibiram distribuição leptocúrtica, sinalizando diferenças na forma como cada espécie ocupa seu nicho ecológico ao longo do tempo.
Segundo os pesquisadores, esses resultados são fundamentais para entender a ecologia dos percevejos manchadores e suas implicações para a agricultura. Como essas espécies utilizam sementes e flores de malváceas em especial o algodão, compreender seus padrões de competição ajuda a prever surtos populacionais e possíveis impactos nas lavouras.
O estudo reforça que a coexistência entre espécies próximas depende de um delicado equilíbrio: se a competição ultrapassar certos limites, a tendência é que apenas uma delas se estabeleça com maior sucesso, alterando a composição da comunidade local. Para os especialistas, o conhecimento desses mecanismos pode orientar estratégias de manejo agrícola mais sustentáveis, reduzindo a dependência de pesticidas e valorizando o papel da ecologia no controle de pragas.

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