Pós-graduações brasileiras formam novos revisores científicos e ajudam a enfrentar crise global na avaliação por pares
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S.
A escassez de revisores científicos qualificados tem se tornado um desafio crescente no mundo acadêmico, e o Brasil começa a responder a essa demanda com iniciativas inovadoras. Em um cenário onde a produção de conhecimento avança rapidamente, a formação de novos avaliadores se revela uma estratégia essencial para manter a qualidade e a credibilidade da ciência.
Instituições de ensino e pesquisa brasileiras vêm incorporando a revisão por pares em suas rotinas de formação, preparando estudantes de pós-graduação para atuar nesse processo crítico. A Escola de Altos Estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é uma das pioneiras nessa área, promovendo seminários e oficinas voltadas ao tema. Nessas atividades, jovens cientistas têm a oportunidade de compreender de forma prática os critérios de avaliação científica e discutir questões éticas e metodológicas relacionadas ao julgamento de manuscritos.
Outros centros de excelência também seguem a mesma direção. Programas de iniciação científica e de pesquisa clínica da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) já incluem módulos específicos sobre revisão científica. Nesses cursos, os estudantes aprendem a avaliar artigos a partir de guias internacionais reconhecidos, como o CONSORT (para estudos clínicos randomizados), o PRISMA (para revisões sistemáticas) e o STROBE (para pesquisas observacionais). O objetivo é formar avaliadores com base em padrões rigorosos de transparência, replicabilidade e ética.
Esses esforços respondem a um problema global. De acordo com uma pesquisa realizada pela editora científica Wiley, que ouviu mais de 3 mil editores de periódicos acadêmicos, 73% relataram enfrentar dificuldades para encontrar revisores disponíveis e qualificados. O envolvimento de pós-graduandos, portanto, surge como uma alternativa viável para suprir essa carência desde que acompanhado de supervisão adequada, mecanismos de avaliação contínua e responsabilidade compartilhada.
Contudo, especialistas alertam que a prática exige cuidado e estrutura. Quando mal conduzida, a participação de estudantes pode comprometer a integridade do processo editorial. Um dos principais riscos é a informalidade: ainda é comum que orientadores repassem pareceres recebidos de revistas para que seus orientandos elaborem as respostas, sem revisar o texto final nem informar a coautoria à publicação. Esse tipo de prática, considerada antiética por editores, invisibiliza o trabalho do estudante e distorce os princípios da revisão por pares.
Apesar dos desafios, o movimento de formação de novos revisores aponta para um futuro promissor. Ao integrar o aprendizado da revisão científica à formação acadêmica, universidades brasileiras se alinham a tendências internacionais que buscam tornar o processo mais transparente, ético e sustentável. A presença de jovens pesquisadores nesse cenário não apenas amplia a rede de avaliadores, mas também renova o olhar crítico e a diversidade de perspectivas dentro da ciência.
A consolidação dessa prática pode representar um marco importante na cultura científica nacional uma mudança de paradigma que une experiência e inovação em defesa da qualidade do conhecimento produzido no país.

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