quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Computação afetiva: quando as máquinas começam a compreender emoções humanas

 Computação afetiva: quando as máquinas começam a compreender emoções humanas

Dr. J.R. de Almeida

[https://x.com/dralmeidajr][instagram.com/profalmeidajr/][  https://orcid.org/0000-0001-5993-0665][https://www.researchgate.net/profile/Josimar_Almeida/stats][ https://uerj.academia.edu/ALMEIDA][https://scholar.google.com.br/citations?user=vZiq3MAAAAJ&hl=pt-BR&user=_vZiq3MAAAAJ]

Editora Priscila M. S.


As fronteiras entre a ficção científica e a realidade tecnológica estão se tornando cada vez mais tênues. O que antes era apenas imaginação de roteiristas e escritores máquinas capazes de compreender emoções humanas agora ganha forma em laboratórios de pesquisa e centros de inovação. A chamada computação afetiva, área que busca dotar sistemas artificiais da capacidade de reconhecer, interpretar e reagir a estados emocionais, avança em ritmo acelerado, trazendo tanto promessas quanto dilemas éticos.

Pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, e da Universidade de Bochum, na Alemanha, liderados por Morris Gellisch e Boris Burr, divulgaram recentemente resultados que ampliam as fronteiras desse campo. Segundo o estudo, os grandes modelos de linguagem (LLMs) as mesmas bases tecnológicas que sustentam assistentes virtuais e plataformas de inteligência artificial demonstraram ser capazes não apenas de compreender comandos linguísticos, mas também de adaptar suas respostas a partir de sinais emocionais e fisiológicos inferidos do modo como o usuário se expressa por texto.



Na prática, isso significa que as máquinas começam a identificar nuances emocionais humanas como ansiedade, entusiasmo ou irritação mesmo sem acesso a imagens, voz ou sensores físicos. Apenas pela forma de escrever, pela escolha de palavras e pelo ritmo da comunicação, os algoritmos conseguem ajustar o tom e o conteúdo de suas respostas para criar uma interação mais “humana”.

Para especialistas, o avanço é notável, mas também levanta preocupações. A capacidade das máquinas de “ler” emoções, sem consentimento explícito, coloca em pauta questões de privacidade emocional e manipulação comportamental. O risco de que sistemas inteligentes utilizem essas informações para influenciar decisões, direcionar consumo ou moldar percepções preocupa pesquisadores e profissionais da ética em tecnologia.

Por outro lado, há aplicações promissoras. Em contextos de saúde mental, por exemplo, a computação afetiva pode auxiliar no monitoramento de pacientes com depressão, ansiedade ou estresse, identificando padrões de linguagem que indiquem recaídas ou necessidade de apoio. Em ambientes educacionais, algoritmos sensíveis ao estado emocional do aluno podem ajustar o ritmo e a abordagem de ensino, tornando a aprendizagem mais personalizada e eficaz.

Apesar dos avanços, cientistas alertam que a interpretação computacional das emoções humanas ainda está longe de ser infalível. Emoções são fenômenos complexos, influenciados por cultura, contexto e individualidade aspectos que dificilmente podem ser reduzidos a dados numéricos. A própria ideia de uma máquina “entender” emoções humanas continua a ser um campo de intenso debate filosófico e científico.

O fato é que, à medida que a inteligência artificial se torna mais presente na vida cotidiana, cresce a responsabilidade coletiva de discutir limites éticos, regulação e transparência no uso dessas tecnologias. O que hoje é um feito científico pode, no futuro, determinar a forma como a humanidade se relaciona com as máquinas e consigo mesma.

A computação afetiva, portanto, surge como um espelho do tempo: um reflexo da busca humana por criar tecnologias capazes de compreender o que há de mais complexo e intangível em sua natureza as emoções.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Avaliação de impacto ambiental ganha centralidade em debates sobre saúde humana, ecossistemas e políticas públicas

  Avaliação de impacto ambiental ganha centralidade em debates sobre saúde humana, ecossistemas e políticas públicas Dr. J.R. de Almeida [ ...