Computação afetiva: quando as máquinas começam a sentir o que você sente
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S.
O avanço da inteligência artificial continua a ultrapassar fronteiras que até pouco tempo atrás pertenciam exclusivamente à ficção científica. Um novo estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Zurique (Suíça) e da Universidade de Bochum (Alemanha) revela que as máquinas estão se aproximando cada vez mais da compreensão emocional humana. A pesquisa, conduzida por Morris Gellisch e Boris Burr, apresenta um sistema capaz de integrar dados fisiológicos em tempo real aos grandes modelos de linguagem (LLMs), permitindo que a inteligência artificial interprete sinais emocionais sutis do corpo humano.
A dupla desenvolveu uma interface técnica que transmite continuamente informações biológicas, como alterações na frequência cardíaca, níveis de estresse e outros biomarcadores emocionais, diretamente para o modelo de linguagem. Dessa forma, o sistema não apenas processa comandos de texto, mas também passa a ajustar suas respostas de acordo com o estado físico e emocional do usuário. Em outras palavras, a máquina começa a “ler” o corpo humano.
De acordo com os pesquisadores, o objetivo inicial é criar aplicações médicas e de assistência baseadas em inteligência artificial, capazes de oferecer apoio emocional e monitoramento de saúde à distância uma inovação que poderia transformar o campo da telemedicina. Imagine um assistente virtual capaz de detectar sinais de ansiedade em um paciente durante uma consulta remota e adaptar sua linguagem de forma empática e tranquilizadora.
Apesar do potencial, os próprios cientistas reconhecem que essa tecnologia abre espaço para questões éticas e sociais delicadas. A capacidade de sistemas artificiais interpretarem emoções e estados fisiológicos humanos levanta preocupações sobre privacidade, consentimento e manipulação emocional. Empresas poderiam, por exemplo, utilizar essas informações para avaliar o humor de funcionários ou influenciar o comportamento de consumidores, criando um cenário de vigilância emocional sem precedentes.
Especialistas alertam que, embora alterações fisiológicas como batimentos cardíacos acelerados ou variações de temperatura corporal possam fornecer pistas sobre o bem-estar físico e emocional de uma pessoa, essas interpretações estão longe de serem absolutas. O risco de erros e vieses é significativo, uma vez que as emoções humanas são complexas e variam conforme cultura, contexto e individualidade.
Ainda assim, os pesquisadores defendem que a computação afetiva pode desempenhar um papel transformador em áreas como a psicologia clínica, o ensino personalizado e o cuidado de idosos. Com protocolos éticos rigorosos e transparência no uso dos dados, tais sistemas poderiam ajudar a identificar crises emocionais precoces ou melhorar o relacionamento entre humanos e máquinas em situações de cuidado.
A chamada “IA observando suas emoções” representa, portanto, uma das fronteiras mais intrigantes e controversas da ciência contemporânea. À medida que a tecnologia aprende a perceber os sinais invisíveis do corpo humano, cresce o debate sobre até que ponto as máquinas devem compreender e reagir ao que sentimos.
O futuro da convivência entre humanos e inteligências artificiais dependerá, mais do que nunca, da capacidade da sociedade de equilibrar inovação e ética, garantindo que as emoções continuem sendo um território genuinamente humano, mesmo em um mundo cada vez mais digital.
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