Da Revolução Industrial à Crise Ambiental: a trajetória histórica que moldou a responsabilidade socioambiental
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S.
O avanço das comunicações e das rotas comerciais entre continentes, intensificado a partir da Revolução Industrial, transformou de forma irreversível o modo como o ser humano produz, consome e se relaciona com o meio ambiente. A possibilidade de fabricar em larga escala, em uma única localidade, produtos destinados a diferentes regiões do planeta marcou o fim da antiga lógica medieval de produção e consumo restrita a pequenas comunidades locais. Nascia, assim, o modelo capitalista global de comercialização um sistema que ampliou fronteiras econômicas, mas também inaugurou uma era de exploração intensa dos recursos naturais e humanos.
Essa nova ordem econômica reorganizou o trabalho, estimulando a especialização e a busca incessante por eficiência produtiva. O economista Adam Smith e, posteriormente, David Ricardo, destacaram o princípio das vantagens comparativas, segundo o qual cada nação deveria concentrar seus esforços naquilo que produz com maior qualidade e menor custo. Esse movimento criou uma teia de interdependência global entre países e trabalhadores, transformando o planeta em uma rede de produção integrada. Contudo, a busca pela produtividade máxima teve um preço elevado: o homem passou a ser visto não como sujeito criador, mas como peça substituível de uma engrenagem industrial.
Karl Marx e Friedrich Engels, em meados do século XIX, já denunciavam esse processo de desumanização. A crescente mecanização das fábricas substituiu artesãos, tecelões e agricultores, reduzindo o valor do trabalho humano e impondo condições de vida degradantes, muitas vezes comparáveis à escravidão. A Revolução Industrial, enquanto símbolo de progresso técnico, foi também o marco de um profundo desequilíbrio social e ambiental.
Paralelamente, o Iluminismo movimento intelectual que exaltava a razão e a capacidade transformadora do homem reforçou a crença de que a natureza deveria ser dominada e moldada conforme as necessidades humanas. Esse pensamento antropocêntrico colocou o ser humano no centro das decisões e consolidou a ideia de superioridade sobre o ambiente natural. A biologia humana, que em essência depende do equilíbrio com o ecossistema, foi gradualmente dissociada de suas origens naturais, dando lugar a uma sociedade cada vez mais mecanizada e distante de seus próprios processos vitais.
No decorrer do século XX, os efeitos dessa visão começaram a se tornar evidentes. As duas Grandes Guerras, o avanço da indústria química, a popularização dos automóveis movidos a combustão e o desenvolvimento de armamentos nucleares acenderam o alerta sobre os impactos da atividade humana no equilíbrio ambiental. Cientistas de diferentes áreas passaram a identificar alterações preocupantes nos ecossistemas, observando fenômenos como o desaparecimento de espécies e a contaminação de solos e cursos d’água.
Um exemplo marcante ocorreu na década de 1970, quando a caça esportiva de aves aquáticas migratórias muito valorizadas na época levou várias espécies à beira da extinção. O caso despertou a atenção de biólogos e conservacionistas, impulsionando debates internacionais sobre a necessidade de preservar a biodiversidade e garantir a manutenção dos ciclos naturais. Esse episódio, entre tantos outros, evidenciou que a interferência humana não se limitava ao plano econômico, mas comprometia também a estabilidade biológica do planeta.
O acúmulo dessas evidências científicas deu origem a um novo campo de reflexão: a responsabilidade socioambiental. Mais do que uma resposta moral, ela tornou-se uma necessidade científica e política diante da constatação de que a sobrevivência humana depende diretamente da saúde dos ecossistemas. O século XXI herdou, portanto, não apenas os avanços tecnológicos e produtivos da era industrial, mas também o desafio de reparar seus efeitos colaterais.
Hoje, diante das crises climáticas e da perda acelerada de biodiversidade, cresce o reconhecimento de que o desenvolvimento sustentável é uma urgência global. A responsabilidade socioambiental emerge como um compromisso coletivo que une ciência, economia e ética para restaurar o equilíbrio entre o progresso humano e a preservação da vida em todas as suas formas.
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