Nova proposta de classificação de paisagens busca integrar clima, relevo e ação humana em análise territorial
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Pesquisadores retomam um debate central para a compreensão do território e da dinâmica ambiental: a classificação das paisagens naturais e antrópicas. O tema, que vem sendo amplamente discutido desde meados do século XX, ganha novos contornos a partir de uma proposta metodológica baseada em critérios geográficos, operacionais e sistêmicos. A iniciativa busca oferecer uma leitura mais precisa e integrada do espaço, considerando a complexidade das interações entre os elementos que compõem a paisagem.
A diversidade de classificações existentes, desenvolvidas por estudiosos como Georges Bertrand, Viktor Sochava e Helmut Troppmair, revela o desafio de delimitar geograficamente as unidades que formam os territórios. As paisagens são formadas por fenômenos de diferentes ordens, que se sobrepõem e se interligam em escalas múltiplas, tornando complexa sua análise. De acordo com André Cholley, citado por Bertrand, a análise detalhada deve preceder a síntese, permitindo que as relações e convergências entre os elementos se revelem com clareza na paisagem como um todo.
A proposta classifica as paisagens a partir de seis níveis hierárquicos de escala espacial. Nessa perspectiva, os elementos climáticos e estruturais ganham destaque nas unidades de maior abrangência zona, domínio e região, enquanto fatores biogeográficos e antrópicos se tornam determinantes nas unidades menores geobiossistema, tipo de modelado e ecótopo. Essa organização permite compreender a paisagem como um sistema integrado, dinâmico e passível de ser tipificado de forma científica.
A chamada “zona” representa o primeiro nível de classificação. Ligada ao conceito de zonalidade planetária, ela define grandes áreas com base em seus elementos climáticos por exemplo, zonas tropicais ou temperadas. Em escalas menores, os geobiossistemas e ecótopos incorporam aspectos mais específicos, como vegetação, relevo, uso da terra e interferências humanas.
Os especialistas destacam que as classificações não são absolutas, mas sim instrumentos de aproximação da realidade geográfica. Como observou Sochava, é possível construir classificações especiais a partir de estruturas básicas, adaptando-as a diferentes objetivos e contextos. A abordagem sistêmica, defendida por Jean Tricart e C. J. Phipps, reforça a ideia de que a paisagem pode ser tratada metodologicamente como um objeto de estudo preciso, dotado de lógica interna e passível de análise tipológica.
Ao reunir diferentes correntes teóricas, a proposta busca mais do que organizar conceitos: pretende oferecer ferramentas práticas para compreender e planejar territórios de forma integrada. Para pesquisadores, urbanistas, ambientalistas e formuladores de políticas públicas, essa leitura refinada da paisagem representa um avanço na compreensão dos sistemas naturais e antrópicos, permitindo decisões mais embasadas sobre ocupação do solo, conservação ambiental e desenvolvimento territorial sustentável.
Assim, a paisagem deixa de ser vista apenas como um cenário estático e passa a ser compreendida como um sistema vivo, em constante transformação um mosaico complexo de elementos físicos, biológicos e humanos que, interligados, revelam a identidade de cada território.

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