Ciência Aberta na América Latina: o Papel do SciELO Data e os Desafios para uma Pesquisa Mais Transparente e Colaborativa
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S.
Na América Latina, a busca por uma ciência mais aberta, acessível e colaborativa ganha força com iniciativas como o SciELO Data, um repositório que oferece serviços voltados à gestão e disseminação de dados científicos alinhados aos princípios FAIR Findable, Accessible, Interoperable e Reusable. O projeto se consolida como um marco regional ao fortalecer a visibilidade da produção científica latino-americana e ao promover práticas de compartilhamento responsáveis e sustentáveis.
Essas experiências mostram que, apesar dos desafios técnicos, éticos e institucionais, é possível construir ecossistemas de pesquisa colaborativos e eficientes. O avanço depende, porém, de uma mudança cultural profunda. Especialistas destacam que a adoção dos princípios FAIR não deve ser tratada como uma responsabilidade isolada dos pesquisadores. Trata-se de um esforço coletivo, que requer o envolvimento de agências de fomento, universidades, editoras científicas e governos. Apenas com essa articulação será possível criar uma infraestrutura científica sólida e integrada, capaz de sustentar a circulação global do conhecimento.
Outro ponto essencial é a formação de novas competências. Em um cenário cada vez mais orientado por dados, a capacitação em ciência de dados e gestão da informação torna-se fundamental na formação de novos cientistas. O paradigma da comunicação científica mudou: publicar artigos já não basta. É preciso também publicar dados de maneira segura, padronizada e reutilizável, garantindo que outros pesquisadores possam validar e ampliar descobertas.
A experiência internacional reforça a importância de infraestruturas abertas e sustentáveis. Países e instituições que investiram em plataformas interoperáveis e em políticas públicas voltadas à ciência aberta conseguiram reduzir desigualdades no acesso ao conhecimento e ampliar a visibilidade de suas produções. No entanto, a América Latina ainda enfrenta barreiras como limitações financeiras, ausência de padronização tecnológica e dificuldades na preservação digital a longo prazo.
Em síntese, os princípios FAIR representam mais do que uma tendência: são um compromisso com a transparência, a reprodutibilidade e a ética científica. Sua implementação, contudo, exige mais do que adesão formal. Envolve investimento contínuo, cooperação entre setores e uma compreensão ampla de que a ciência aberta não é apenas uma questão técnica, mas também social e política.
A tentação de transformar o FAIR em um simples checklist burocrático deve ser evitada. O verdadeiro desafio está em construir uma cultura científica baseada na confiança, no compartilhamento responsável e na democratização do conhecimento pilares que podem definir o futuro da pesquisa global e posicionar a América Latina como protagonista nesse movimento.

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