Sorte neurolinguística
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
A sorte, frequentemente tratada como um fenômeno místico ou aleatório, tem ganhado interpretações mais estruturadas à luz da ciência. Pesquisas contemporâneas em áreas como a neurolinguística, a filosofia e a psicologia comportamental vêm reformulando o conceito popular de “boa” ou “má sorte”, atribuindo-lhe raízes profundas no comportamento humano, na linguagem e até mesmo nas estruturas cognitivas.
Segundo os princípios da neurolinguística, a sorte pode ser entendida como o resultado de um padrão de conduta repetido e insistente. Palavras como "azar", quando proferidas de forma recorrente, moldam a maneira como os indivíduos interpretam suas experiências, influenciando seus comportamentos e, por consequência, seus resultados. Assim, a linguagem se torna uma ferramenta não apenas de comunicação, mas de condicionamento. O uso contínuo de termos negativos pode ativar uma cadeia de comportamentos inconscientes que tendem a reforçar experiências igualmente negativas. Essa perspectiva sugere que o vocabulário pessoal não apenas reflete o pensamento, mas o modela e, por isso, pode interferir diretamente na construção do sucesso ou do fracasso.
No campo da filosofia, o pensador Nicholas Rescher propôs uma fórmula para quantificar a sorte:
λ = Y - E, sendo “Y” o resultado obtido e “E” o resultado esperado. A lógica por trás dessa equação reside na discrepância entre o que se espera e o que efetivamente ocorre. Quanto maior a habilidade envolvida em determinada ação, menor o papel atribuído à sorte. Em jogos como o xadrez, por exemplo, quase toda a variável de resultado está relacionada à competência do jogador. Por outro lado, em jogos como "cobras e escadas", o fator aleatório domina completamente o desfecho.
Ainda no universo dos jogos, estudos sugerem que superstições embora irracionais podem influenciar positivamente o desempenho quando há algum grau de habilidade envolvido. No pôquer, por exemplo, acreditar em um amuleto da sorte pode elevar a confiança do jogador, resultando em decisões mais assertivas e controladas.
Na ciência, o papel do acaso também tem sido amplamente discutido, especialmente no que se refere às descobertas inesperadas. O psicólogo britânico Richard Wiseman conduziu um extenso estudo ao longo de uma década sobre a natureza da sorte. Seus resultados indicam que a sorte não é um privilégio aleatório, mas uma consequência de padrões de comportamento. Wiseman identificou quatro princípios fundamentais que distinguem as pessoas consideradas “sortudas”: a capacidade de gerar e reconhecer oportunidades fortuitas; a habilidade de tomar decisões bem-sucedidas com base na intuição; a criação de profecias autorrealizáveis por meio de expectativas positivas; e a adoção de uma atitude resiliente que transforma adversidades em vantagens.
Essas conclusões colocam em xeque a crença de que a sorte é um elemento externo, fora do controle individual. Pelo contrário, ela se revela como uma construção comportamental, cognitiva e até mesmo linguística, passível de ser desenvolvida. O cruzamento de evidências entre diferentes áreas do conhecimento aponta para uma mesma direção: ser “sortudo” pode ser menos uma questão de destino e mais uma habilidade a ser treinada.
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