Construções, barragens, mineração e fenômenos climáticos estão entre os principais fatores que aceleram a perda de sedimentos nas praias
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
A erosão costeira, fenômeno que tem alterado significativamente a paisagem do litoral brasileiro, é resultado de uma combinação de causas naturais e intervenções humanas. O processo, que se manifesta pela retirada contínua de sedimentos da linha de costa, tem levado à diminuição de faixas de areia, destruição de ecossistemas e ameaça a áreas urbanizadas próximas ao mar.
Entre os principais fatores naturais e antrópicos associados à erosão, destaca-se a retenção de sedimentos pelas correntes de deriva litorânea. Esse transporte natural de areia ao longo da costa é frequentemente interrompido por obstáculos sejam eles naturais ou artificiais, como espigões, molhes ou plataformas. Quando posicionados a barlamar, esses elementos bloqueiam o fluxo de sedimentos e geram erosão a sotamar, ou seja, nas áreas situadas após o obstáculo.
Outro fator crítico é a construção de barragens em rios e a atividade de mineração de areia em seus leitos, que reduzem drasticamente o transporte de sedimentos até o litoral. Sem esse suprimento fluvial, as correntes marinhas deixam de redistribuir a areia ao longo das praias, comprometendo a estabilidade da linha de costa.
Também são relevantes as correntes de retorno que empurram os sedimentos em direção à plataforma continental adjacente. Esse fenômeno ocorre quando correntes de sentidos opostos convergem em um mesmo trecho da praia, formando células de circulação litorânea que removem sedimentos da faixa costeira.
A erosão pode ainda ser intensificada por frentes frias, que trazem marés meteorológicas e ondas de tempestades, além da diminuição do aporte de sedimentos arenosos da plataforma continental para a costa. Em eventos extremos, o impacto das ondas pode causar perdas imediatas e severas de material sedimentar.
Do ponto de vista antrópico, a urbanização desenfreada das orlas é uma das principais ameaças. A destruição de dunas e vegetações nativas, como a restinga, aliada à impermeabilização dos cordões arenosos com asfalto e concreto, impede o ciclo natural de reposição de sedimentos. A expansão urbana também avança sobre áreas sensíveis, como manguezais, planícies fluviais e lagunares, frequentemente aterradas para construção civil sob pressão especulativa.
Por fim, construções irregulares ao longo das margens de rios, especialmente próximas às suas desembocaduras, causam assoreamento e alteram os padrões naturais de drenagem. Esses impactos comprometem a renovação dos sedimentos costeiros e contribuem diretamente para o avanço da erosão.
Especialistas defendem que a mitigação desses efeitos depende de políticas públicas eficazes, gestão integrada do litoral e ações de conscientização que considerem o equilíbrio dinâmico entre o mar, os rios e as atividades humanas. Preservar os fluxos naturais de sedimentos é fundamental para garantir a resiliência das zonas costeiras frente às mudanças climáticas e à ocupação desordenada.
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