ANÁLISE DE IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE A FAUNA EM MALHA RODOVIÁRIA
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Rodovias brasileiras ameaçam fauna silvestre: estudo propõe nova metodologia para avaliar impactos de atropelamentos
Embora representem progresso e conectividade entre cidades, as rodovias também carregam um pesado custo ambiental. Um dos impactos mais graves e frequentemente negligenciado é a mortalidade de animais silvestres por atropelamento. Esse fenômeno, cada vez mais frequente nas estradas brasileiras, está provocando desequilíbrios ecológicos e ameaça direta à biodiversidade.
Um estudo recente analisou a profundidade desse problema e propôs uma nova abordagem para avaliar o impacto ambiental causado pelos atropelamentos. O trabalho destaca que, apesar da relevância do tema, a avaliação atual é feita de forma simplista e meramente quantitativa, ou seja, contabilizando o número de animais mortos sem considerar a importância ecológica de cada espécie afetada.
Segundo a pesquisa, a ausência de critérios mais refinados impede a formulação de políticas eficazes para mitigar os impactos. A proposta apresentada busca justamente corrigir essa lacuna: por meio da definição de atributos ecológicos de cada animal atropelado como seu papel na cadeia alimentar, grau de ameaça, raridade e importância ecológica a metodologia sugere atribuir um peso específico para cada atropelamento, de acordo com a relevância da espécie.
Essa ponderação, feita por meio de uma função matemática, permite compreender melhor a gravidade de cada perda. Não é o mesmo, por exemplo, atropelar uma espécie comum de pequeno roedor e um animal raro, com baixa taxa de reprodução e função ecológica fundamental para o ecossistema local. Essa diferenciação é essencial para o gerenciamento ambiental de rodovias, especialmente em áreas de elevada biodiversidade.
A fauna silvestre brasileira, rica e diversa, está entre as mais afetadas por esse tipo de impacto. Animais como tamanduás, capivaras, jaguatiricas e aves de rapina frequentemente figuram nas estatísticas de atropelamentos. Muitos desses animais são noturnos, têm baixa mobilidade ou utilizam as margens das estradas como corredores de deslocamento, tornando-se alvos frequentes de colisões com veículos em alta velocidade.
Os pesquisadores alertam que os atropelamentos, além de causarem a morte direta dos animais, provocam desequilíbrios em cascata: a redução de predadores, dispersores de sementes ou controladores naturais de pragas afeta todo o ecossistema, comprometendo a regeneração florestal, a polinização e a estabilidade das cadeias alimentares.
Especialistas em ecologia e gestão ambiental destacam que medidas como a instalação de passagens de fauna, cercas direcionadoras, sinalização específica e redução de velocidade em áreas críticas são fundamentais para mitigar o problema. No entanto, essas ações só são eficazes quando baseadas em estudos detalhados, que indiquem onde e quando os atropelamentos ocorrem com maior frequência e quais espécies estão sendo afetadas.
Ao propor uma metodologia que leva em conta a importância ecológica das espécies atropeladas, o estudo oferece uma ferramenta mais precisa para orientar decisões públicas e privadas voltadas à conservação da fauna. A expectativa é que esse novo modelo de avaliação possa ser incorporado a estudos de impacto ambiental e a planos de licenciamento e manutenção de rodovias em todo o país.
A relação entre desenvolvimento e preservação ambiental exige equilíbrio. A ciência mostra, mais uma vez, que o progresso só é sustentável quando considera os custos invisíveis que recaem sobre os ecossistemas e suas espécies.
Fonte: Revista Interdisciplinar de Ciências Ambientais – UERJ
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