MONITORAMENTO DE BIOINDICADORES NA VIA TRANSOLÍMPICA, RIO DE JANEIRO – BRASIL
Dr. J.R. de Almeida
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Editora Priscila M. S. Gomes
Monitoramento de abelhas revela impacto ambiental da construção da Via Transolímpica no Rio de Janeiro
A construção da Via Transolímpica, importante corredor viário de 23 quilômetros que liga regiões estratégicas do Rio de Janeiro, trouxe não apenas mudanças urbanísticas, mas também desafios ambientais significativos. Entre eles, o impacto sobre a comunidade de abelhas, fundamentais para a manutenção da biodiversidade e para o equilíbrio ecológico.
Um estudo realizado durante a fase de implantação da obra buscou monitorar essas populações, avaliando a flutuação das espécies e promovendo o resgate de enxames que poderiam ser afetados pela transformação da paisagem. O trabalho seguiu protocolos técnicos rigorosos, estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 346/2004, direcionados à análise de abelhas nativas e africanizadas.
As coletas foram realizadas em duas estações distintas inverno e primavera, o que possibilitou observar a variação sazonal na ocorrência das espécies. Durante o inverno, foram resgatados 34 enxames, enquanto na primavera esse número aumentou para 46. A espécie Tetragonisca angustula, popularmente conhecida como jataí, destacou-se como a mais abundante em ambas as estações, revelando sua capacidade de adaptação mesmo em áreas impactadas pela atividade humana.
Entre os achados mais relevantes, está o registro e o resgate da espécie Melipona quadrifasciata anthidioides, uma abelha sem ferrão pertencente ao gênero Melipona. Esse dado ganha importância especial porque várias espécies desse grupo encontram-se ameaçadas nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, ambos reconhecidos como hotspots de biodiversidade e sob forte pressão de desmatamento e urbanização.
O monitoramento serviu não apenas como medida de mitigação ambiental durante a construção da via expressa, mas também como alerta sobre a necessidade de se preservar polinizadores. As abelhas desempenham papel essencial na reprodução de inúmeras plantas, incluindo espécies de interesse agrícola. A redução de suas populações pode comprometer tanto ecossistemas naturais quanto a produção de alimentos.
Pesquisadores envolvidos ressaltam que ações como o resgate de enxames são fundamentais para reduzir os impactos de grandes obras de infraestrutura. No entanto, lembram que a proteção efetiva das abelhas exige políticas de longo prazo, voltadas à conservação de habitats e ao combate ao uso indiscriminado de pesticidas.
A Via Transolímpica, projetada inicialmente para os Jogos Olímpicos de 2016, deixa assim uma marca também no campo ambiental. Mais do que uma ligação viária, o empreendimento tornou-se palco de estudos que reforçam a importância de se conciliar crescimento urbano e preservação da biodiversidade. O resgate e a observação das abelhas demonstram que, mesmo em meio a obras de grande porte, é possível criar estratégias para proteger espécies ameaçadas e manter vivo o equilíbrio natural.
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