sexta-feira, 27 de junho de 2025

A Área de Atuação da Responsabilidade Socioambiental

 A Área de Atuação da Responsabilidade Socioambiental

Dr. J.R. de Almeida

[https://x.com/dralmeidajr][instagram.com/profalmeidajr/][  https://orcid.org/0000-0001-5993-0665][https://www.researchgate.net/profile/Josimar_Almeida/stats][ https://uerj.academia.edu/ALMEIDA][https://scholar.google.com.br/citations?user=vZiq3MAAAAJ&hl=pt-BR&user=_vZiq3MAAAAJ]

Editora Priscila M. S. Gomes


A crescente preocupação com os impactos ambientais e sociais provocados pelo modelo de desenvolvimento vigente tem colocado a responsabilidade socioambiental no centro dos debates sobre sustentabilidade e ética corporativa. Em meio a um cenário global marcado por crescimento populacional acelerado e uso desenfreado dos recursos naturais, surgem questionamentos cruciais sobre o papel das organizações frente às crises ambientais e às desigualdades sociais.

A responsabilidade socioambiental não é apenas uma diretriz teórica, mas uma prática que vem sendo moldada por múltiplas áreas do conhecimento, que vão da ecologia à economia, passando pela sociologia, pela ética e pela gestão pública. Ela emerge como resposta à degradação ambiental causada pelo modelo de produção e consumo moderno um sistema que, ao priorizar o lucro, gerou consequências devastadoras, como o aumento da pobreza, da injustiça social e da violência urbana.

Essa realidade impulsionou a formulação do conceito de desenvolvimento sustentável, cuja proposta é ambiciosa: promover o crescimento econômico aliado à conservação dos ecossistemas e à redução das desigualdades sociais. Nesse novo paradigma, o equilíbrio entre os interesses econômicos e os direitos sociais e ambientais torna-se não apenas desejável, mas urgente.

O embate, no entanto, é evidente. De um lado, a sociedade civil se organiza por meio de movimentos sociais, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e consumidores mais conscientes, exigindo posturas éticas e sustentáveis. Do outro, o setor empresarial busca conciliar tais exigências com a maximização do lucro, o que gera um constante conflito entre a racionalidade econômica e a responsabilidade social.

O desafio, portanto, está em construir práticas corporativas e políticas públicas que não apenas mitiguem danos, mas que promovam transformações estruturais nos modos de produzir, consumir e se relacionar com o meio ambiente. A responsabilidade socioambiental, nesse contexto, é mais do que uma obrigação institucional: é uma oportunidade de reconstruir vínculos entre economia, sociedade e natureza, em busca de um futuro mais justo e equilibrado.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Os fungos ectomicorrízicos são os melhores amigos das plantas?

Os fungos ectomicorrízicos são os melhores amigos das plantas?

Dr. J.R. de Almeida

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Editora Priscila M. S. Gomes


Um estudo de alcance internacional lança luz sobre o papel fundamental dos fungos micorrízicos nas florestas e como suas interações com as árvores podem impactar a biodiversidade em diferentes regiões do planeta. A pesquisa, que analisou 4.090 florestas distribuídas por 50 países em cinco continentes, oferece uma nova perspectiva sobre a forma como essas associações biológicas subterrâneas influenciam a diversidade das plantas que compõem os ecossistemas florestais.

As florestas abrigam a maior biomassa entre os ecossistemas terrestres e são essenciais tanto para mitigar os efeitos das mudanças climáticas quanto para preservar a biodiversidade. No entanto, pressões humanas severas têm levado à degradação acelerada desses ambientes, aumentando o risco de extinção de espécies arbóreas e a perda irreversível de florestas em escala global.

Embora fatores como temperatura, precipitação, fertilidade do solo e mecanismos de autorregulação populacional já sejam reconhecidos como influências importantes na diversidade de espécies, pouco se sabia até então sobre o papel das interações mutualistas como as que ocorrem entre árvores e fungos nesse processo.

Os fungos ectomicorrízicos, por exemplo, formam simbioses com as raízes das árvores, fornecendo nutrientes e proteção contra patógenos em troca de carbono. Essas relações são comuns e essenciais em muitos ecossistemas terrestres. Entretanto, havia um impasse científico: enquanto alguns estudiosos sugeriam que esses fungos poderiam reduzir a diversidade ao favorecer certas espécies dominantes hipótese conhecida como "dominância ectomicorrízica", outros defendiam que a presença de diferentes tipos de fungos poderia, ao contrário, promover maior diversidade, o que levou à formulação da chamada "hipótese da mistura micorrízica".

A resposta encontrada pelos pesquisadores, no entanto, é mais complexa: depende das condições ecológicas. O estudo mostrou que, em florestas de baixa latitude com clima úmido, a dominância de fungos ectomicorrízicos está associada à redução da diversidade arbórea. Em contrapartida, em regiões áridas de baixa latitude, a presença de uma maior variedade de fungos favorece a diversidade. Já em florestas localizadas em faixas intermediárias de latitude e umidade, uma nova teoria ganha força: a “hipótese integrada”, que considera uma combinação dos dois modelos anteriores.

De acordo com os autores, esses achados ampliam a compreensão sobre como os fungos subterrâneos moldam as comunidades vegetais e contribuem para a manutenção da biodiversidade. Ao revelar a complexidade dessas relações mutualistas, o estudo também destaca a importância de considerar fatores regionais em estratégias de conservação e restauração florestal.

A pesquisa, que une dados ecológicos em escala global, reforça a ideia de que soluções universais para a proteção das florestas devem levar em conta as sutilezas locais inclusive as que ocorrem abaixo do solo.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Como as plantas respondem ao calor extremo

 Como as plantas respondem ao calor extremo 

Dr. J.R. de Almeida

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Editora Priscila M. S. Gomes


À medida que o planeta enfrenta um aumento constante nas temperaturas, pesquisadores voltam sua atenção para um dos biomas mais sensíveis ao calor extremo: as florestas tropicais. Já expostas a condições naturalmente elevadas de temperatura, essas regiões estão sob ameaça direta com a projeção de um aquecimento adicional de até 4 °C até o final do século, caso medidas mais eficazes não sejam adotadas para conter as mudanças climáticas.

Diante desse cenário, cientistas do mundo inteiro vêm intensificando estudos para entender como as espécies vegetais tropicais responderão a esse novo patamar térmico. Experimentos de campo estão sendo conduzidos com o objetivo de simular futuros cenários climáticos: em alguns casos, parcelas de floresta têm suas temperaturas manipuladas artificialmente; em outros, árvores são transplantadas para áreas mais quentes, forçando-as a sair de sua zona de conforto térmico.

Os resultados preliminares acendem um alerta. Apesar de algumas evidências de aclimatação e resiliência fisiológica, os dados indicam que as espécies tropicais não estão se deslocando com a velocidade necessária para acompanhar o ritmo do aquecimento global, que já soma aproximadamente 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.

A estratégia de migração para altitudes mais elevadas ou regiões afastadas do equador, por enquanto, não mostra sinais de ser suficientemente eficaz. Outro fator preocupante é a lentidão do ciclo reprodutivo das árvores tropicais, que pode levar décadas. Essa característica limita a possibilidade de evolução genética rápida, reduzindo as chances de surgimento de adaptações ao calor extremo em um curto intervalo de tempo.

A grande incógnita que paira sobre o futuro das florestas tropicais é se as plantas conseguirão, individualmente, ajustar aspectos estruturais e fisiológicos de forma eficiente para sobreviver. Pesquisas já demonstram pequenos indícios de adaptação, mas não está claro se essa capacidade será suficiente diante das ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas.

O destino das florestas tropicais, consideradas pilares essenciais da biodiversidade global e do equilíbrio climático, pode depender diretamente da velocidade e da eficácia com que suas espécies vegetais conseguirão responder aos desafios de um planeta em aquecimento.

terça-feira, 24 de junho de 2025

As baleias jubarte podem estar nos sinalizando com bolhas?

 As baleias jubarte podem estar nos sinalizando com bolhas?

Dr. J.R. de Almeida

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Uma descoberta intrigante reacende o debate sobre a inteligência e os modos de comunicação das baleias jubarte (Megaptera novaeangliae). Um comportamento curioso foi observado em diversos pontos do oceano: essas gigantes marinhas vêm sendo registradas soprando anéis de bolhas perfeitamente circulares, fenômeno que pode representar mais do que simples brincadeira ou técnica de caça.

As jubartes são conhecidas por utilizarem redes de bolhas em espiral para cercar cardumes e facilitar a alimentação. No entanto, os anéis descritos no recente estudo internacional apresentam características distintas. Longe de servirem apenas como armadilhas aquáticas, esses círculos efervescentes – comparados pelo renomado biólogo Roger Payne a "nuvens em forma de rosquinha que giram loucamente, como anéis de fumaça de cerca de um metro de diâmetro" – parecem revelar um possível esforço de interação.

A pesquisa, conduzida por uma equipe de biólogos e fotógrafos marinhos, analisou imagens e vídeos de baleias produzindo esses anéis subaquáticos. Os registros foram obtidos de diferentes ângulos: submersos, a partir de mergulhadores; na superfície, a partir de embarcações; e aéreos, por meio de drones e aviões.

O mais surpreendente é a resposta comportamental das baleias diante da presença humana. Em nenhum dos episódios documentados foi observada agressividade, nem entre indivíduos da mesma espécie, nem em relação a embarcações ou mergulhadores. Pelo contrário: as jubartes responsáveis pelos anéis de bolhas se aproximaram dos observadores humanos – exceto nos momentos em que estavam ativamente se alimentando.

Embora ainda não haja evidência conclusiva sobre o propósito desse comportamento, os cientistas reconhecem que ele pode carregar um significado mais profundo. "Independentemente do motivo de sua criação, manter a vigilância no campo ajudará a elucidar a frequência e a função dos anéis de bolhas", afirmam os autores. "Tanto as abordagens lúdicas quanto as comunicativas dos anéis de bolhas podem ter um significado mais profundo para as baleias jubarte."

Seja expressão artística, jogo social ou tentativa de diálogo, uma coisa é certa: os gigantes do mar continuam a surpreender a ciência e a desafiar as fronteiras da comunicação interespécies.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Escurecimento do oceano

 Escurecimento do oceano     

Dr. J.R. de Almeida

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Um estudo liderado por cientistas da Universidade de Plymouth revelou que mais de um quinto do oceano global escureceu nas últimas duas décadas, fenômeno que pode ter impactos severos nos ecossistemas marinhos e na vida humana. O trabalho, publicado na revista científica Global Change Biology, analisou dados entre os anos de 2003 e 2022 e constatou que cerca de 21% da superfície oceânica apresentou significativa redução na penetração da luz solar.

Esse processo, conhecido como escurecimento do oceano, ocorre quando alterações nas camadas superiores da água limitam a profundidade à qual a luz solar consegue alcançar. As causas apontadas para esse fenômeno incluem mudanças na frequência e intensidade de blooms de algas, elevações nas temperaturas da superfície do mar e o aumento da poluição luminosa provocada por atividades humanas.


De acordo com o relatório, mais de 9% dos oceanos uma área comparável ao tamanho da África apresentaram uma redução de mais de 50 metros na penetração da luz. Em 2,6% da superfície analisada, a perda de luz ultrapassou 100 metros. Essa redução afeta diretamente organismos marinhos que dependem da luz para sobreviver, como plantas aquáticas e espécies fotossintéticas fundamentais na cadeia alimentar.

O Dr. Thomas Davies, coautor da pesquisa, alerta que o escurecimento do oceano pode comprometer serviços ecossistêmicos essenciais, incluindo a produção de oxigênio, a pesca e a regulação do clima. “Nossos resultados representam uma preocupação genuína”, afirmou o cientista, destacando que as consequências podem atingir o ar que respiramos, os alimentos que consumimos e os mecanismos naturais de combate à crise climática.


O professor Tim Smyth, chefe de Ciência em Biogeoquímica Marinha do Plymouth Marine Laboratory, acrescenta que algumas espécies marinhas podem ser forçadas a subir em direção à superfície para buscar luz, o que pode desencadear uma competição mais intensa por alimento e espaço. “Isso poderia provocar transformações fundamentais em todo o ecossistema marinho”, explicou.

Os cientistas alertam que o fenômeno do escurecimento dos oceanos exige atenção urgente da comunidade internacional, pois representa mais uma face preocupante das alterações climáticas globais. O estudo reforça a necessidade de monitoramento contínuo e de políticas públicas voltadas à preservação dos ambientes marinhos, que desempenham papel central na estabilidade ecológica do planeta.

terça-feira, 17 de junho de 2025

Sorte neurolinguística

Sorte neurolinguística

Dr. J.R. de Almeida

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Editora Priscila M. S. Gomes


A sorte, frequentemente tratada como um fenômeno místico ou aleatório, tem ganhado interpretações mais estruturadas à luz da ciência. Pesquisas contemporâneas em áreas como a neurolinguística, a filosofia e a psicologia comportamental vêm reformulando o conceito popular de “boa” ou “má sorte”, atribuindo-lhe raízes profundas no comportamento humano, na linguagem e até mesmo nas estruturas cognitivas.

Segundo os princípios da neurolinguística, a sorte pode ser entendida como o resultado de um padrão de conduta repetido e insistente. Palavras como "azar", quando proferidas de forma recorrente, moldam a maneira como os indivíduos interpretam suas experiências, influenciando seus comportamentos e, por consequência, seus resultados. Assim, a linguagem se torna uma ferramenta não apenas de comunicação, mas de condicionamento. O uso contínuo de termos negativos pode ativar uma cadeia de comportamentos inconscientes que tendem a reforçar experiências igualmente negativas. Essa perspectiva sugere que o vocabulário pessoal não apenas reflete o pensamento, mas o modela e, por isso, pode interferir diretamente na construção do sucesso ou do fracasso.

No campo da filosofia, o pensador Nicholas Rescher propôs uma fórmula para quantificar a sorte:
λ = Y - E, sendo “Y” o resultado obtido e “E” o resultado esperado. A lógica por trás dessa equação reside na discrepância entre o que se espera e o que efetivamente ocorre. Quanto maior a habilidade envolvida em determinada ação, menor o papel atribuído à sorte. Em jogos como o xadrez, por exemplo, quase toda a variável de resultado está relacionada à competência do jogador. Por outro lado, em jogos como "cobras e escadas", o fator aleatório domina completamente o desfecho.

Ainda no universo dos jogos, estudos sugerem que superstições embora irracionais podem influenciar positivamente o desempenho quando há algum grau de habilidade envolvido. No pôquer, por exemplo, acreditar em um amuleto da sorte pode elevar a confiança do jogador, resultando em decisões mais assertivas e controladas.

Na ciência, o papel do acaso também tem sido amplamente discutido, especialmente no que se refere às descobertas inesperadas. O psicólogo britânico Richard Wiseman conduziu um extenso estudo ao longo de uma década sobre a natureza da sorte. Seus resultados indicam que a sorte não é um privilégio aleatório, mas uma consequência de padrões de comportamento. Wiseman identificou quatro princípios fundamentais que distinguem as pessoas consideradas “sortudas”: a capacidade de gerar e reconhecer oportunidades fortuitas; a habilidade de tomar decisões bem-sucedidas com base na intuição; a criação de profecias autorrealizáveis por meio de expectativas positivas; e a adoção de uma atitude resiliente que transforma adversidades em vantagens.

Essas conclusões colocam em xeque a crença de que a sorte é um elemento externo, fora do controle individual. Pelo contrário, ela se revela como uma construção comportamental, cognitiva e até mesmo linguística, passível de ser desenvolvida. O cruzamento de evidências entre diferentes áreas do conhecimento aponta para uma mesma direção: ser “sortudo” pode ser menos uma questão de destino e mais uma habilidade a ser treinada.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Rejeitos da construção civil viram alternativa verde ao cimento: Do pó ao cimento

 Rejeitos da construção civil viram alternativa verde ao cimento: Do pó ao cimento

Dr. J.R. de Almeida

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Editora Priscila M. S. Gomes



Engenheiros do Instituto de Tecnologia Shibaura, no Japão, desenvolveram uma alternativa inovadora e sustentável ao cimento Portland, utilizando dois resíduos industriais amplamente disponíveis: areia reciclada e o pó gerado pelo corte de materiais de revestimento, como cerâmica, fibrocimento e pedras. O resultado da pesquisa é um novo tipo de aglutinante, batizado de “solidificador de solo de alto desempenho”, classificado como um geopolímero.

A tecnologia foi projetada para reaproveitar rejeitos da construção civil, ao mesmo tempo que reduz a pegada de carbono da indústria da construção, uma das mais poluentes do mundo. O novo material mostrou-se capaz de estabilizar solos frágeis, superando os 160 kN/m² de resistência à compressão exigidos para aplicações estruturais, como fundações de edifícios, estradas e pontes.


Uma etapa crucial do processo é o tratamento térmico do pó de revestimento, realizado entre 110 °C e 200 °C. Essa etapa aumenta significativamente a reatividade do material, melhorando o desempenho do geopolímero sem a necessidade de grandes volumes de insumos.

Segundo o professor Shinya Inazumi, coordenador da pesquisa, “esta tecnologia representa um avanço significativo na produção de materiais de construção sustentáveis. Utilizamos dois resíduos amplamente descartados para criar um produto que atende aos padrões da indústria e, ao mesmo tempo, combate o desperdício e as emissões de carbono.”

Embora o novo material não substitua completamente o cimento Portland devido à limitação na disponibilidade dos resíduos, sua aplicabilidade é ampla. A equipe destaca o potencial uso em áreas urbanas e rurais, especialmente em regiões com solos argilosos problemáticos, onde métodos convencionais de estabilização são caros e ambientalmente prejudiciais.



Além disso, a rápida cura do material é considerada um diferencial importante, possibilitando sua aplicação em contextos emergenciais, como zonas de risco de deslizamentos. Os pesquisadores também sugerem seu uso na fabricação de blocos de solo estabilizado, oferecendo uma alternativa de baixo carbono ao concreto e aos tijolos cozidos.

“Ao desenvolver um solidificador geopolimérico a partir de fluxos de resíduos facilmente disponíveis, não estamos apenas oferecendo uma solução de engenharia sustentável, mas também redefinindo o valor dos subprodutos industriais em um cenário global de recursos limitados,” conclui Inazumi.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Febre comportamental


Febre comportamental

Dr. J.R. de Almeida

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Editora Priscila M. S. Gomes



Ter febre nunca é agradável. Ficar deitado, suando frio, com o corpo quente e os pensamentos embaralhados, é algo que ninguém deseja. Mas confesso que, depois de ler um novo estudo, minha percepção sobre esse sintoma mudou um pouco. Imagine só: enquanto nós podemos apenas nos encolher sob o cobertor e deixar o corpo trabalhar contra os invasores, alguns animais precisam literalmente ir atrás do calor para ativar suas defesas.


É o caso das lagartixas e de outros bichos de sangue frio. Eles não produzem calor internamente como nós. Quando estão doentes, precisam procurar superfícies quentes uma pedra aquecida ao sol, por exemplo para forçar o corpo a uma temperatura que ajude a combater vírus e bactérias. Esse processo ganhou o nome de febre comportamental.

E o mais curioso? Agora sabemos que até as moscas-das-frutas fazem isso e não é contra qualquer ameaça, mas contra inimigos dignos de filme de ficção científica. Um grupo de cientistas, em um estudo publicado na revista Science, observou o comportamento dessas pequenas moscas ao serem atacadas por vespas parasitoides. Essas vespas colocam seus ovos dentro das moscas, e suas larvas crescem por lá até romperem o corpo do hospedeiro, literalmente matando a mosca para nascerem um verdadeiro estilo “Alien, o Oitavo Passageiro”.


Mas as moscas parecem não se render tão facilmente. Depois de infectadas, elas foram colocadas em uma câmara com temperaturas variando de 19°C a 31°C. O que aconteceu? As que estavam nas fases finais da infecção procuraram as áreas mais quentes acima dos 25°C. Isso sugere que estavam, de forma consciente, mudando de ambiente para aumentar a temperatura do corpo. Em outras palavras: estavam tendo uma febre comportamental, na tentativa de se salvar.

Essa descoberta me fez pensar no quanto o comportamento animal ainda nos surpreende e também me fez olhar para uma simples febre com um pouco mais de respeito. Afinal, se até uma mosca luta assim para sobreviver, quem sou eu para reclamar de um termômetro marcando 38 graus?

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Genes de plantas recém-descobertos podem reduzir o custo da produção de um importante medicamento contra o câncer.

Genes de plantas recém descobertos podem reduzir o custo da produção de um importante medicamento contra o câncer.      

Dr. J.R. de Almeida 

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Editora Priscila M. S. Gomes



Poucos compostos sintetizados pela natureza têm uma trajetória tão notável quanto o paclitaxel, amplamente conhecido como Taxol. Utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer incluindo mama, ovário e pulmão, esse diterpenoide complexo representa não apenas um marco terapêutico, mas também um desafio biotecnológico. Produzi-lo em larga escala ainda é uma tarefa cara, demorada e ecologicamente delicada.
 

O obstáculo começa na própria origem do composto: as agulhas do teixo inglês (Taxus baccata). A partir delas, extrai-se a baccatina III, um precursor essencial na síntese do paclitaxel. Essa extração, somada às etapas subsequentes de modificação química, torna o processo oneroso e dependente de uma fonte vegetal limitada e de crescimento lento. Foi justamente essa limitação que motivou um grupo de pesquisadores a investigar, com ferramentas de última geração, os mecanismos genéticos envolvidos na biossíntese do paclitaxel nas células do teixo. A grande novidade? A identificação de genes antes desconhecidos que completam a rota biossintética da baccatina III, parte central do caminho metabólico que leva à produção do medicamento.

  
Utilizando técnicas de transcriptômica de célula única, os cientistas analisaram milhares de células do teixo em condições variadas, incluindo estresses induzidos por sais e elicitores bacterianos estímulos conhecidos por amplificar a resposta metabólica das plantas, inclusive a produção de compostos secundários com função defensiva, como o próprio paclitaxel. Com isso, conseguiram mapear uma via com 17 genes diretamente envolvidos na síntese do precursor. Alguns desses genes eram até então completamente desconhecidos, o que indica que a via metabólica era apenas parcialmente compreendida até agora.


Essa descoberta representa um passo crucial rumo à biossíntese heteróloga do paclitaxel. A partir do momento em que conhecemos todos os genes da via, podemos pensar em estratégias para expressá-los em organismos modelo como leveduras, bactérias ou culturas celulares vegetais otimizadas, permitindo a produção do composto em biorreatores, com maior eficiência, escalabilidade e menor impacto ambiental. Mais do que uma curiosidade científica, esse avanço tem implicações diretas na acessibilidade de tratamentos oncológicos e no custo da saúde pública. Afinal, baratear o paclitaxel significa ampliar o alcance de um fármaco que, em muitos países, ainda é restrito por seu alto preço. A biotecnologia de produtos naturais complexos vive um momento fascinante e ver uma árvore milenar, símbolo de silêncio e contemplação, tornar-se aliada da medicina moderna, é um lembrete de que o futuro da saúde pode estar enraizado no passado evolutivo da flora.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Agentes e Processos de Interferência, Risco, Impacto e Dano Ambiental: Sistemas Terrestres

 Agentes e Processos de Interferência, Risco, Impacto e Dano Ambiental: Sistemas Terrestres

 DOI: https://doi.org/10.12957/ric.2023.72623

Dr. J.R. de Almeida 

[https://x.com/dralmeidajr][instagram.com/profalmeidajr/][  https://orcid.org/0000-0001-5993-0665][https://www.researchgate.net/profile/Josimar_Almeida/stats][ https://uerj.academia.edu/ALMEIDA][https://scholar.google.com.br/citations?user=vZiq3MAAAAJ&hl=pt-BR&user=_vZiq3MAAAAJ]

Editora Priscila M. S. Gomes


A Terra sob nossos pés: o solo está tentando nos dizer algo

Ao longo da minha jornada como pesquisadora, descobri que o solo, muitas vezes esquecido sob nossos pés, é um verdadeiro livro aberto sobre a saúde do nosso planeta. E como qualquer organismo vivo, ele reage e sofre com os impactos naturais e, principalmente, com a ação humana. Foi essa percepção que me levou a mergulhar numa investigação sobre os principais agentes que vêm modificando as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo em diversos ecossistemas ao redor do mundo.

Moore, Oklahoma, Tornado, Desastre

Durante essa análise, ficou claro: mudanças no regime de chuvas, alterações químicas e nutricionais, além da redução do volume disponível de solo, têm contribuído diretamente para a expansão de áreas semiáridas. Essa transformação não é invisível. Ela se materializa em regiões que antes eram férteis e agora se tornam improdutivas, vulneráveis e até hostis à vida.

Ao observar os taludes aquelas encostas naturais formadas por solo e rocha percebi que os movimentos de massa, como deslizamentos e quedas, são mais comuns do que imaginamos. Eles ocorrem naturalmente, é verdade, mas tornam-se frequentes e perigosos quando interferimos, escavando, construindo ou desviando cursos d’água. Situações corriqueiras, como a abertura de uma estrada ou a prática agrícola em terrenos inclinados, podem desencadear desastres.

Trator, Engenharia Agrícola, Campo

Outro alerta vem da subsidência, um fenômeno que parece silencioso, mas é profundamente revelador. Em áreas como os Everglades, nos EUA, ou os polders holandeses, a drenagem e o uso excessivo do solo para agricultura levaram ao afundamento do terreno. A retirada de água ou minerais do subsolo provoca o colapso de estruturas naturais, e o solo, que antes sustentava plantações e florestas, simplesmente cede.

E o que dizer da forma como alteramos os ciclos naturais de nutrientes? Interferimos constantemente na dinâmica do nitrogênio, fósforo, potássio e outros elementos fundamentais. A introdução de fertilizantes artificiais, o escoamento de água contaminada e a colheita intensiva desequilibram um sistema que, quando em harmonia, é autossuficiente e produtivo.

Em desertos, por exemplo, mesmo com uma concentração alta de nutrientes, a falta de água e a baixa transferência entre os compartimentos do ecossistema impedem a reciclagem adequada. Já nas tundras, o solo pobre e o frio extremo dificultam qualquer tentativa de recuperação ambiental. Nestes casos, tentar “melhorar” a produtividade com métodos convencionais é como tentar cultivar flores no gelo.

Sapo, Batráquio, Água, Sapo Verde

A erosão do solo também me chamou atenção. Mudanças no clima, na cobertura vegetal ou no uso do solo impactam diretamente sua capacidade de regeneração. A paisagem se transforma, e o solo, quando exposto sem proteção, torna-se vulnerável, perdendo nutrientes e sua capacidade produtiva.

O que mais me impressionou foi compreender o impacto silencioso da salinização. Com a irrigação prolongada, especialmente em regiões áridas, o nível de água subterrânea sobe. Quando evapora, o sal fica. E, pouco a pouco, esse sal se acumula na superfície, transformando áreas férteis em desertos improdutivos. Em alguns casos, o processo é irreversível.

Apesar de existirem sistemas de irrigação sustentáveis que funcionam há séculos, a verdade é que grande parte das terras irrigadas atualmente já apresenta sinais de salinização. Estima-se que entre 20% e 40% dessas áreas estejam sendo perdidas. Não é exagero afirmar que a salinização do solo contribuiu para o colapso de civilizações inteiras que dependeram da agricultura em regiões semiáridas.

Silverado, 4X4, Lama, Água, Ervas

Ao final desta jornada, fiquei com a sensação de que o solo está nos dando sinais claros de esgotamento. É preciso ouvi-lo. Se quisermos preservar a base da nossa cadeia alimentar, proteger os solos deve ser uma prioridade não só para cientistas, mas para todos nós.


STRUCTURAL ANALYSIS OF A TROPICAL FOREST ECOSYSTEM

 STRUCTURAL ANALYSIS OF A TROPICAL FOREST ECOSYSTEM  Dr. J.R. de Almeida [ https:// x .com/dralmeidajr ][ in stagram .com/profalmeidajr/ ][ ...